Por Bruno Costa da Silva Pesquisador do Medical College, Cornell University/Nova Iorque – EUA
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Apesar dos inegáveis avanços no desenvolvimento de terapias contra cânceres, com o surgimento de drogas mais específicas e com menos efeitos colaterais, muitos desafios ainda nos separam de tratamentos eficazes para a maior parte dos pacientes acometidos por esta classe de doenças.
Uma das estratégias mais utilizadas para otimizar a ação de drogas antitumorais, e diminuir os seus efeitos colaterais em tecidos saudáveis, baseia-se na criação de drogas específicas. O desenho químico de certas drogas permite que estas atuem especificamente na função de proteínas que possuam importância na biologia de tumores.
Uma analogia que ajuda na compreensão da importância dessa estratégia é pensar em uma fechadura (aqui, a proteína alvo), que deveria ser aberta, e uma chave mal copiada, daquelas que até entram na fechadura, mas não abrem a porta (a droga). Nessa analogia, a estratégia para dificultar o funcionamento da proteína alvo e a sobrevivência/progressão do tumor (a abertura da porta pela chave) seria encher o chaveiro ao qual a chave boa está presa com chaves mal copiadas e assim diminuir a chance da porta ser aberta. Esse método até que tem funcionado bem nos tratamentos mais modernos contra alguns tipos de cânceres. O problema é que o tumor, às vezes, encontra maneiras de contornar essa artimanha, mudando a estrutura da fechadura da porta de forma que ela não mais aceite as chaves mal copiadas, deixando-a livre para eventualmente ligar-se à chave correta, tornando irrelevante o uso desta estratégia. Isso na prática se reflete em casos em que pacientes param de responder a tratamentos antitumorais antes eficientes.
Buscando resolver essa limitação, Cientistas Descobriram Que uma boa ideia seria, ainda usando a analogia da fechadura, conseguir desenhar uma chave mal copiada que não só não abra a porta, mas que ao ser colocada na porta destrua por completo a fechadura, fazendo que esta não abra com mais nenhuma chave. Para isso os pesquisadores do grupo do Dr. James Bradner, do Instituto Dana-Farber, em Boston, nos Estados Unidos, utilizaram uma classe de drogas chamadas ptalimidas. As ptalimidas são parecidas com uma velha vilã, conhecida por causar sérios casos de má formação gestacional na metade do século passado, chamada Talidomida.
Estudando mais a fundo como as ptalimidas funcionam, descobriu-se que estas drogas ativam mecanismos celulares responsáveis pela marcação de proteínas que devem ser destruídas de forma natural pela célula. A ptalimida seria, assim, capaz de indicar à célula quais proteínas devem ser destruídas. Com essa informação em mente, o próximo passo foi fundir a ptalimida a drogas com conhecida especificidade com proteínas alvo de tumores, mas que em certos casos perdem sua atividade antitumoral, criando drogas híbridas. Essas novas drogas hibridas, quando ligadas às proteínas alvo, fizeram com que estas fossem eliminadas da célula. Voltando à analogia, seria o mesmo prender um pequeno explosivo às chaves mal copiadas que, ao serem utilizadas, destruiriam a fechadura.
Com essa nova estratégia, que apresentou resultados animadores em tumores de roedores, cientistas têm agora uma nova gama de possibilidades quanto ao tratamento de cânceres. Será possível não apenas o desenho de novas drogas para uso humano que contenham o “sinal de destruição”, mas especialmente reconsiderar o uso de drogas antes tidas como ineficientes ou facilmente toleradas por tumores.
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