Por Renata Kaminski Dpto. de Química, UFS / Aracajú – SE
Envenenamento por comida manda milhares de pessoas por ano para o hospital, e no Estados Unidos, somente a bactéria Salmonela provocou mais de 400 mortes. Se levarmos em consideração que essa bactéria é apenas uma entre 15 patógenos comuns que causam envenenamento, podemos ver que esse é um grande problema. As análises desses patógenos não são simples e demandam máquinas complicadas e pessoal especializado. Além disso, os testes não trazem os resultados rápidos necessários para a indústria de alimentos em larga escala.
Visando a facilidade e portabilidade dos testes, um grupo de cientistas coreanos desenvolveu um novo teste baseado em papel. Seus resultados foram publicados na revista Analytical Chemistry no mês de março de 2016. Controlando o tamanho dos poros do papel, eles observaram que foi possível manipular as reações em várias etapas que são necessárias para esse tipo de análise. O teste foi feito com as bactérias Escherichia coli e Salmonella typhimurium, que são duas das maiores causadoras de intoxicações alimentares. Quando o dispositivo é mergulhado em uma solução contendo essas bactérias, aparecem linhas indicando a presença delas após 15 minutos.
O princípio usado para o controle das reações é a capilaridade, que é um fenômeno físico resultante da atração entre um líquido e as paredes de um vidro, por exemplo. Quando se coloca um tubo de fino calibre em contato com água, o líquido tende a subir pelas paredes desse tubo. Esse fenômeno é muito utilizado pelas plantas no transporte de seiva bruta pelo xilema da raiz até as folhas. Os cientistas controlam o tamanho dos poros do papel prensando com pressões diferentes em cada pedaço e, dessa forma, mudando o tamanho dos poros, podendo assim controlar o fluxo do líquido pelo papel. Nas regiões do papel que usaram pouca força na prensagem, os poros são maiores e o líquido sobe com velocidade diferente dos locais prensados com maior força que, consequentemente, terão poros menores. Podemos dizer que cada canal apresenta velocidade de fluxo diferente. A partir disso, puderam adicionar os reagentes necessários para as reações de identificação. Se trata de uma operação em uma fase, no entanto são reações múltiplas, controladas pela velocidade de fluxo. O teste não requer que se carregue os reagentes necessários para a identificação e pode ser facilmente operado por pessoas mesmo sem treinamento, pois é necessário mergulhar o dispositivo e observar se as linhas se formam. É um dispositivo portátil e de fácil interpretação dos resultados.
Claro que, para que seja largamente aplicável, são necessários ainda alguns testes de reprodutibilidade. Porém, é um teste promissor para detecção simples de patógenos mortais antes que esses cheguem às prateleiras das lojas, restaurantes e, principalmente, nosso estômago.