Por Talita da Silva Jeremias – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC
A informação mais importante que você tem que saber sobre o ácido hialurônico é que esta molécula está presente naturalmente no nosso corpo. Os tecidos que formam os órgãos são compostos de células e matriz extracelular. A matriz extracelular é uma rede tridimensional formada por diferentes tipos de moléculas, como por exemplo o já conhecido colágeno e o agora famoso ácido hialurônico, que auxiliam na sustentação, no suporte físico dos tecidos e até na comunicação entre as células.
Então, o ácido hialurônico é um componente dessa matriz extracelular e está presente em todos os tecidos, sendo mais abundante na pele, tecidos esqueléticos, válvulas do coração, vítreo do olho, líquido sinovial (do joelho e dos dedos) e cordão umbilical. Para você ter uma ideia, em uma pessoa de aproximadamente 70kg, 15 gramas é de ácido hialurônico. Estamos falando de mais ou menos uma colher de sopa de açúcar de ácido hialurônico! E saiba, bioquimicamente falando, que realmente esta molécula é um açúcar (carboidrato): um glicosaminoglicano composto por dissacarídeos repetidos, com carga negativa e altamente hidrofílico (retém/atrai água).
O ácido hialurônico possui inúmeras funcionalidades no nosso corpo, como na comunicação e migração (movimento) celular, no preenchimento de espaços entre as células, hidratação, lubrificação das articulações e regulação de processos de reparos após uma lesão. Mas ele ganhou destaque nos últimos anos em razão do seu uso na área cosmética e na dermatologia, principalmente em razão da sua propriedade viscoelástica, de hidratação e de preenchimento. O resultado disso são narizes perfeitos, faces simétricas e mais joviais, lábios volumosos, peles e cabelos hidratados e renovados. Entretanto, esse efeito não dura para sempre, já que nosso corpo produz uma enzima que degrada o ácido hialurônico: a hialuronidase. Em razão disso, a aplicação do ácido hialurônico precisa ser realizada com certa frequência para a manutenção dos resultados obtidos.
Mas, caro leitor, essa molécula não serve apenas para isso! Em razão da grande quantidade no fluido sinovial (joelho) e nas cartilagens, essa molécula também é amplamente estudada na área de ortopedia e já é aplicada principalmente para o tratamento de osteoartrite e artrite reumatoide. A osteoartrite, por exemplo, é uma doença muito comum que resulta da degradação da cartilagem das articulações e dos tecidos ósseos subjacentes, ocasionando dor, rigidez e mobilidade limitada. Nesses casos, as injeções intra-articulares de ácido hialurônico têm demonstrado efeitos terapêuticos, com redução da dor. Além disso, os estudos mostram que o tratamento promove a recuperação da cartilagem e evita a sua degradação, assim como estimula a síntese de mais ácido hialurônico no local da aplicação e reduz a inflamação. Entretanto, é importante dizer que este tratamento não fornece uma completa regeneração da articulação, porém reduz a dor e leva à diminuição do uso de medicamentos, como anti-inflamatórios.
Na área da oftalmologia, o ácido hialurônico ganha destaque pelo seu uso para o tratamento de olhos secos, uma doença da superfície ocular que resulta em desconforto, ardência, fobia à luz, distúrbios visuais e instabilidade do filme lacrimal. Assim, as propriedades do ácido hialurônico, como retenção de água e lubrificação, podem ser aplicadas para o tratamento dessa doença. Ainda, os estudos mostram que o ácido hialurônico previne a degradação da superfície da córnea por suas propriedades anti-inflamatórias.
Atualmente, estas aplicações na dermatologia, oftalmologia e ortopedia estão crescendo exponencialmente, mas destaco que as distintas características e funcionalidades do ácido hialurônico vêm estimulando também várias pesquisas focadas em outras áreas, como no reparo de feridas na pele, no tratamento após infarto do miocárdio, entre outras. Então, pode apostar que em breve o ácido hialurônico será o queridinho, também, em outras áreas da medicina regenerativa!
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