Por Bruno Costa da Silva – Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal
Apesar de termos à disposição uma razoável gama de drogas com efeito antitumoral, de maneira geral, um determinado tumor será sensível apenas a uma fração destas drogas. Além disso, mesmo quando um tumor é sensível a uma droga específica, comumente observa-se o desenvolvimento de resistência a curto ou médio prazo. Uma das explicações mais aceitas para este processo é a de que, mesmo quando a maioria das células em uma massa tumoral é sensível à uma determinada droga, comumente existirão populações de células tumorais resistentes à uma terapia em questão. Assim, ao final do tratamento com uma determinada droga, haveria espaço para uma população inicialmente minoritária se expandir e formar novas massas tumorais. Levando em conta esta teoria, em casos de retorno da massa tumoral, a estratégia mais adotada é a de buscar uma droga alternativa que possa ser eficiente contra estas células tumorais emergentes. Entretanto, não raramente, há casos aonde não é possível obter resposta antitumoral com drogas alternativas, seja por falta de efeito da droga e/ou por excessiva toxicidade da terapia em questão. Infelizmente, estes casos costumam resultar em baixa sobrevida dos pacientes.
Com isso em mente, de forma a melhorar a resposta e a sobrevida de pacientes oncológicos, fica clara a importância de buscarmos compreender com mais detalhes como tumores tornam-se resistentes às drogas. Outra questão crucial, sem uma resposta no campo da oncologia, é sobre como células cancerígenas se mantém inativas (ou dormentes) durante anos após um primeiro tratamento, voltando a formar lesões tumorais as vezes décadas depois do primeiro diagnóstico.
Com estas questões em mente Cientistas Descobriram Que há um novo mecanismo pelo qual células cancerígenas podem adquirir resistência a terapias antitumorais. Em um trabalho, liderado pela Dra. Catherine O’Brien (University Health Network – Toronto – Canada), publicado na revista americana Cell, foi observado que determinadas terapias antitumorais são capazes de induzir um estado de hibernação em células tumorais. Células que entram neste estado de suspensão, chamadas pelos autores deste trabalho de “Persistentes tolerante a drogas”, ou DTP, conseguem preservar energia ao desacelerarem significativamente seu ritmo de proliferação celular e assim se protegerem da ação de drogas antitumorais (especialmente daquelas que atuam no bloqueio da proliferação celular). O mais interessante é que este estado de hibernação de tumores se assemelha em muito com um processo observado no desenvolvimento embrionário de mais de uma centena de mamíferos, chamado de “Diapausa”. Neste estado de latência, embriões conseguem pausar o seu desenvolvimento quando condições ambientais adversas estão presentes, retomando o seu desenvolvimento quando estas condições se tornam mais favorável. Os cientistas do grupo da Dra. O’Brien observaram que, quando tratados com quimioterapias, tumores humanos conseguem entrar em um estado similar à diapausa. Sabendo que a autofagia (do grego “comer a si mesmo”), um processo que permite que células consumam as suas estruturas celulares em condições adversas, é um componente chave da diapausa, cientistas viram que ao inibirem a autofagia em células tumorais conseguiram também diminuir a hibernação destas células, diminuir a presença de células não responsivas às terapias e melhorar a eliminação de tumores. Outro ponto relevante diz respeito à ideia mais aceita para a origem de resistência a terapias: a de que subpopulações de células tumorais, diferentes geneticamente das populações responsivas ao tratamento, são selecionadas durante quimioterapias. Interessantemente, neste trabalho os autores viram ainda que células tumorais, mesmo geneticamente idênticas a células sensíveis a um agente quimioterápico especifico, podem adquirir resistência transitória às drogas por meio do processo que se assemelha à diapausa.
Esta descoberta abre possibilidades animadoras para aumentarmos a eficiência de quimioterapias existentes, diminuindo a necessidade de múltiplos ciclos de tratamento com drogas frequentemente tóxicas e a chance de reaparecimento da doença tumoral depois de anos do primeiro tratamento antitumoral. Entretanto, como em outros trabalhos desenvolvidos apenas em células de camundongos, haverá ainda a necessidade de validar estes achados em pacientes oncológicos humanos.
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