Será que vale a pena virar a noite estudando para uma prova?

Por Virgínia Lazzari (Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética ) e Luiza Bazzaneze – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Os estudantes frequentemente utilizam a tática de “virar a noite estudando” na tentativa de obter melhores notas. Será que essa é uma boa estratégia? 

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Para responder a essa questão, vamos falar um pouco sobre a estrutura cerebral responsável pela formação de novas memórias e suas funções: o hipocampo. Essa estrutura faz parte do Sistema Límbico, estando relacionada ao controle comportamental, emocional, de aquisição e consolidação de memórias, além de ser essencial no processo de aprendizagem. Suas principais células são os neurônios piramidais, responsáveis pela comunicação com diferentes regiões cerebrais.

Durante o período de sono, as células piramidais do hipocampo emitem ondas agudas SWRs (Sharp Wave Ripples) em uma frequência determinada de disparos elétricos. Essas ondas são originadas em uma pequena área hipocampal, mas distribuídas por toda a sua extensão e, além, produzindo atividades de disparo sincronizadas. Para criar uma memória, essa atividade cerebral fica repetindo os padrões de disparo usados, tornando o “caminho” neuronal associado a ela mais forte e estável. Quando estamos acordados, é normal que ocorra uma alta frequência de disparos neuronais, pois muitas informações estão chegando ao nosso cérebro. Durante o sono, deve ocorrer uma redução da frequência de ativação dos neurônios, bem como a “reativação” de alguns padrões que ocorreram durante o dia. Com a reativação desses padrões, ocorre o fortalecimento e a consolidação das memórias a serem mantidas. Dessa forma, as SWR fortalecem as conexões associadas à memória, melhorando seu armazenamento e a capacidade de criar recordações relacionadas ao aprendizado.

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Você ouve sua voz interior? Explorando as consequências comportamentais da anendofasia 

Por Vanessa Shigunov (Psicóloga) e Patrícia Shigunov (FIOCRUZ)

A anendofasia é um fenômeno psicológico caracterizado pela ausência de um monólogo interno ou fala interior, que é a capacidade de “ouvir” pensamentos verbais na mente. Enquanto muitas pessoas experimentam uma forma contínua de diálogo interno que ajuda na organização de ideias, na tomada de decisões e na reflexão sobre experiências, indivíduos com anendofasia não possuem essa narrativa interna verbalizada. Em vez disso, seus processos de pensamento podem ocorrer de maneira não verbal, utilizando imagens visuais, sensações ou outras formas de cognição. Cientistas descobriram que a variabilidade na fala interna das pessoas possui consequências comportamentais e em tarefas cognitivas.

Pesquisadores da Dinamarca e dos Estados Unidos estudaram as diferenças entre pessoas com graus distintos de fala interna em relação aos processos da memória operacional verbal. Eles acreditavam que lembrar de palavras seria mais difícil para as pessoas sem voz interna, pois elas não utilizam o exercício de repetir para si mesmas o que precisam memorizar. Por outro lado, aquelas que possuem voz interior mais ativa reforçariam a informação que precisam reter por meio desse diálogo interno. Essa hipótese foi confirmada pela pesquisa, demonstrando que a presença de uma voz interna facilita a memorização de palavras.

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Cogumelos “mágicos” podem salvar vidas

Por Kelmer Martins da Cunha & Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos,  Depto. BOT-CCB/UFSC

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Você leitor do CDQ já deve estar pensando: “já li esse título por aqui no CDQ, será?”. Sim, de forma muito similar, em um outro texto de 2017, falamos sobre como substâncias tóxicas de fungos venenosos poderiam ser úteis para transportar medicamentos no corpo humano e ajudar no combate a doenças, como o câncer. No texto de hoje, queremos compartilhar com vocês mais uma evidência científica do benefício dos fungos. Em um estudo recente, ficou comprovado o potencial que cogumelos “mágicos” têm para dar maior qualidade de vida às pessoas que sofrem com a depressão, inclusive salvando vidas.

A depressão é uma doença muito séria, por vezes negligenciada ou até mesmo não diagnosticada, mas que afeta a vida de milhões de pessoas diariamente. No mundo, são mais de 300 milhões de pessoas impactadas e, no Brasil, cerca de 16 milhões têm suas carreiras, interações sociais e a própria felicidade comprometidas pela doença. Existe uma relação clara entre depressão e alteração na estrutura cerebral, ou seja, pessoas com esta doença apresentam uma comunicação reduzida entre os neurônios, a chamada atrofia sináptica. Por ser uma doença com causas complexas, resultante da junção de fatores genéticos, ambientais e psicológicos, ainda não existe cura. Existem tratamentos que podem amenizar os efeitos da doença.

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