Tumores podem ser tão antigos quanto seres vivos multicelulares

Por Bruno Costa Silva                                                                                                                Pesquisador na Medical College, Cornell University/Nova Iorque – EUA

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Apesar do investimBruno CS imagemento anual de bilhões de dólares em pesquisas, a total compreensão e cura do câncer ainda parece estar além do horizonte. Nessa busca, uma pergunta que surge vez ou outra na cabeça de quem estuda oncologia é em que ponto da nossa evolução passamos a ser acometidos por tumores? Essa pergunta é de grande relevância, pois, teoricamente, ao respondê-la poderemos entender melhor as bases biológicas do câncer e, consequentemente, elaborar possíveis novas abordagens para o tratamento de pacientes portadores dessa doença.

Para responder essa pergunta, na falta de uma máquina do tempo, pode-se buscar, por exemplo, por indícios fósseis de nossos tatara-tatara-tatara-vós. Apesar de ser uma fonte preciosa de informações, fósseis não permitem estudos genéticos e celulares desses ancestrais, o que seria de grande importância para comprovar e aprofundar um eventual achado. Uma maneira menos complicada de se tentar responder essa pergunta seria olharmos para alguns animais contemporâneos, porém, muito primitivos, como as hidras, animais aquáticos do grupo dos cnidários.

Com essa estratégia em mente, o grupo do Doutor Thomas Bosh, da Universidade de Kiel, na Alemanha, descobriu que o câncer afeta, de fato, os cnidários, demonstrando que a doença é prevalente mesmo nesse grupo antigo de animais.

Nesse estudo, detectou-se em alguns indivíduos a formação de massas celulares de morfologia bastante alterada semelhante a tumores. Ao se estudar estas células com mais detalhes, foram encontradas características típicas de células tumorais, como aumento do tamanho de citoplasma e de núcleo. Além disso, apesar de aparentemente não apresentarem crescimento descontrolado (uma das características comuns das células cancerígenas) estas células, assim como tumores, demonstraram-se resistentes à morte e apresentaram alterações em genes envolvidos em cânceres humanos, como aqueles responsáveis pela divisão e morte celular, metabolismo e manutenção da estrutura do DNA.

Ao serem implantadas em indivíduos saudáveis, estas células alteradas foram capazes não somente de formar novos tumores, mas também de invadir e se espalhar pelos tecidos do hospedeiro, características estas semelhantes às observadas em tumores de mamíferos. Além disso, hidras injetadas com células tumorais passaram a apresentar saúde debilitada, o que foi observado pela redução de crescimento e da capacidade reprodutiva.

Com esse trabalho, assim como em qualquer boa descoberta científica, junto com os novos dados vêm as novas perguntas:

– Qual a origem celular destes tumores nas hidras?

– Quão comum são os tumores nas hidras?

– A incidência de tumores aumentou com o passar da evolução?

– Se os tumores são tão antigos assim, serão eles uma característica inerente de todos os animais? Se isso é verdade e se tumores acometem até mesmo animais tidos como literalmente imortais pelos cientistas como as hidras, seremos um dia capazes de mudar essa característica que parece datar de nossos primórdios evolutivos?

Apesar do ar pessimista, já que parece que os tumores sempre estiveram e provavelmente sempre estarão aí, o aprofundamento desta descoberta será de grande importância para entendermos ainda mais os cânceres quanto às suas origens e assim buscar melhores maneiras de combatê-lo.

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