Por Daniel Fernandes, Departamento de Farmacologia UFSC

Fonte imagem: https://ebpcooh.org.uk/too-much-salt/

Que o excesso de sal pode aumentar sua pressão arterial e, portanto, o risco de outras complicações cardiovasculares, provavelmente você já sabia. Mas agora cientistas descobriram que o sal em excesso pode também comprometer o sistema imunológico, dificultando o combate a infecções.

Pesquisadores do Hospital Universitário de Bonn na Alemanha mostraram que camundongos alimentados com uma dieta rica em cloreto de sódio, o nosso conhecido sal de cozinha, apresentaram um quadro de infecção urinária mais grave do que os camundongos que receberam uma dieta normal.

Para entender o que estava acontecendo, os pesquisadores avaliaram a resposta dos neutrófilos, células brancas de defesa do sangue, que dão o primeiro combate a agentes invasores e são importantes para combater infecções bacterianas. Os pesquisadores mostraram que os neutrófilos isolados dos rins dos animais que receberam uma dieta rica em sal não foram capazes de matar bactérias (a chamada função bactericida) de forma eficiente. Portanto, a dieta rica em sódio pode agravar infecções por comprometer a função bactericida das células de defesa.

Mas como o consumo excessivo de sal pode afetar a função bactericida dos neutrófilos? Os autores, muito perspicazes, perceberam que os animais com dieta rica em sal apresentavam níveis sanguíneos reduzidos de um hormônio chamado aldosterona e níveis elevados de outro hormônio, chamado de glicocorticoide. A redução da aldosterona era esperada, pois este hormônio tem o papel de reter o sódio no organismo, o que, diante de um consumo excessivo de sódio, reduz sua produção. No entanto, o que, mais chamou a atenção dos cientistas foi o aumento de glicocorticoide, pois este hormônio tem propriedade imunossupressora e que poderia ser responsável pela redução das atividades dos neutrófilos. O ponto chave mostrado pelos autores é que a aldosterona é sintetizada a partir de glicocorticoides e, sendo assim, a redução na produção de aldosterona gera um consequente aumento na disponibilidade do glicocorticoide imunossupressor.

Os pesquisadores foram além e mostraram que a administração de uma substância que bloqueia a ação do glicocorticoide foi capaz de impedir a imunossupressão induzida pela dieta rica em sal, confirmando o papel dos glicocorticoide na ação imunossupressora.

Por fim, os autores realizaram um estudo clínico com 10 voluntários saudáveis que receberam 6 g de sal por dia durante uma semana. Esta quantidade de sal é equivalente ao consumo de dois hambúrgueres. Os autores mostraram que o consumo de sal elevou os níveis de glicocorticoide e também reduziu a capacidade de neutrófilos de matar bactérias, mostrando que este efeito ocorre em humanos. Para termos uma melhor ideia sobre a quantidade de sal usada no estudo, a ingestão diária individual de sal é, em média, de 8-10 g/dia, excedendo tanto o limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde de 5 g/dia como os 0,5 g/dia que nosso organismo necessita para suas funções fisiológicas.

Mas algumas coisas precisam ser levadas em consideração. Primeiro, os neutrófilos não são nossas únicas células de defesa. Cada tipo de infecção, seja ela viral, bacteriana ou fúngica, recruta diferentes tipos de células. Portanto, as observações feitas aqui em um quadro de infecção bacteriana, não podem ser diretamente extrapoladas para outros tipos de infecção, como por exemplo uma infecção viral como a do coronavírus. Além disso, o foco do trabalho foi em infecção renal, e talvez a dieta rica em sal não tenha o mesmo efeito em outros órgãos.

De qualquer forma, fica evidente que, apesar de o sal ser um excelente tempero e deixar os pratos mais apetitosos, seu consumo em excesso pode ter efeitos imunossupressores. Este fato pode ser relevante para a discussão atual sobre a ingestão diária recomendada de sal.

Acesse abaixo  o artigo original:

• A high-salt diet compromises antibacterial neutrophil responses through hormonal perturbation