Por Filipe Modolo – Dpto. de Patologia, UFSC

A pandemia do COVID-19 é um dos assuntos mais importantes do momento. Diversos textos de minha autoria desse blog científico já trataram de alguns aspectos relacionados à pandemia do COVID-19, com destaque para “O impacto da COVID-19 na saúde bucal”, “O impacto emocional do COVID-19” e “Os ensinamentos da pandemia”. Felizmente, a ciência é incansável e, por meio do árduo trabalho dos pesquisadores, diversas descobertas muito importantes têm sido noticiadas ultimamente.
Recentemente, cientistas descobriram que as glândulas salivares são um importante reservatório para o coronavírus! Neste momento, você pensa: “Mas, espera aí, qual a novidade?! Todo mundo já sabe que as gotículas (cheias de saliva) infectadas pelo coronavírus e disseminadas por meio da tosse, do espirro ou da fala de um paciente doente, são a principal forma de contaminação! Até por isso recomenda-se o uso de máscaras e o distanciamento social!” …
A resposta para essa pergunta está na complexidade da saliva! A saliva é um fluido corporal fruto da mistura de 4 componentes principais: fluido produzido e secretado pelas glândulas salivares, fluido gengival, secreções respiratórias e células bucais descamadas. Não se sabe exatamente quais desses componentes são portadores do vírus… Partindo dessa premissa, um grupo de pesquisadores brasileiros da USP, Instituto Adolfo Lutz e Universidade de Michigan estudaram amostras teciduais de glândulas salivares de pacientes que faleceram devido ao COVID-191.
As amostras foram coletadas de 24 pacientes, sendo 13 mulheres e 11 homens, com média de idade de 53 anos e que faleceram, em média, após 21 dias dos primeiros sintomas da COVID-19. As amostras foram analisadas utilizando microscopia, ferramentas de detecção genética do vírus, detecção das proteínas virais e dos receptores celulares para o vírus.
O coronavírus foi encontrado nas principais células produtoras de saliva que, por sua vez, apresentavam abundante quantidade dos receptores celulares para o vírus (que são necessários para que o vírus infecte as células hospedeiras). Além disso, estas células apresentavam diversas alterações estruturais que indicam a infecção pelo coronavírus.
Mas, afinal, qual a importância desse conhecimento? O conhecimento do organotropismo (local no corpo do hospedeiro escolhido pelo vírus para colonizar e se multiplicar) de um vírus é importante para entender melhor como a doença se comporta e se dissemina. A colonização de glândulas salivares acontece em diversas doenças virais e parece ser uma estratégia muito eficiente para disseminação desses vírus por meio da tosse, espirro e até da fala. A disseminação permite que o vírus infecte novos hospedeiros e que, portanto, possa seguir multiplicando a doença.
Quando conhecemos a forma de disseminação de um agente causador de uma doença, podemos tomar as medidas necessárias para diminuir e/ou interromper esse processo, reduzindo o número de pessoas doentes e mitigando os prejuízos humanos e financeiros advindos dessa doença.
Para mais informações acesse os links abaixo:
1- Salivary glands are a target for SARS-CoV-2: a source for saliva contamination.