Abaixo a corrupção tumoral!! A saga continua

Por Bruno Costa Silva – Champalimaud Centre for the Unknown – Lisboa, Portugal 

Neste texto mostramos uma nova droga que, ao atuar sobre células não tumorais, melhora a resposta de tumores a terapias.

Se estima que apenas em 2020 tenham havido 1.414.259 casos e 375.304 mortes causadas por câncer de próstata globalmente, um tipo tumoral que sozinho corresponde a 15% de todos os diagnósticos de câncer.

Apesar de avanços no desenvolvimento de novos medicamentos, uma proporção de 10-20% destes pacientes virão a apresentar tumores com resistência mesmo aos tratamentos mais modernos.

Em 2013 e 2020, nos textos “Abaixo à corrupção tumoral!!”, e “Abaixo à corrupção tumoral!!: O retorno”, publicados no CDQ, falamos sobre o papel de células não tumorais corrompidas por células cancerosas na agressividade de tumores. No seguimento a este princípio, em um trabalho liderado por Johann De Bono, oncologista médico consultor da Royal Marsden NHS Foundation Trust e professor de medicina experimental contra o câncer no Instituto de Pesquisa do Câncer, em Londres, Cientistas Descobriram Que a resistência de alguns pacientes à terapia para o câncer de próstata pode ser superada evitando a atração de uma população de células brancas, chamadas de células mieloides, para os tumores.

Em um artigo científico publicado na revista Nature em setembro de 2023, os pesquisadores demonstraram que a droga chamada AZD5069, um medicamento experimental que bloqueia o recrutamento de células mieloides para tumores, foi capaz de “ressensibilizar” os tumores de pacientes com tumor na próstata avançado a drogas convencionais contra este tumor. Mais especificamente, foi visto que cinco dos 21 (24%) pacientes tratados com AZD5069 em ensaios preliminares voltaram a responder a tratamentos convencionais. Esta foi a primeira evidência em um ensaio em humanos de que ter como alvo as células mieloides, que são usados pelos tumores para promover o desenvolvimento do câncer, metástases e resistência ao tratamento, pode reverter a resistência aos medicamentos e limitar a progressão de um tumor.

Há mais de uma década cientistas deste grupo já haviam visto que células mieloides estavam elevadas em indivíduos com tumores de próstata agressivos e mais resistentes ao tratamento. Os cientistas viram ainda que, uma vez dentro dos tumores, estas células passam por uma mudança durante a qual se transformam em “fábricas de hormônios”, produzindo sinais que facilitam o desenvolvimento, o crescimento e a sobrevivência do tumor. Se sabe ainda que este processo é amplificado quando estas células enviam mais sinais à medula óssea, encorajando mais células mieloides “corruptas” a se infiltrar no tumor. Com a droga AZD5069, cientistas conseguiram bloquear uma molécula chamada CXCR2, presente em células mieloides, e prevenir o recrutamento destas células para os tumores.

Outro aspecto encorajador deste estudo é que as células mieloides têm sido associadas à resistência ao tratamento em diversos tumores. Ou seja, há no horizonte a possibilidade de que drogas como a AZD5069 possam ser utilizadas para melhorar a ação de drogas antitumorais e assim aumentar a sobrevida de mais pacientes oncológicos.

Como em todos os estudos preliminares, há a necessidade se estudar em mais detalhes a segurança deste novo tratamento, avaliando se pacientes podem apresentar efeitos colaterais ligados a esta nova droga. Outro ponto diz respeito ao fato de 3/4 dos pacientes não terem se beneficiado desta nova terapia. Seriam doses maiores ou mais frequentes mais eficientes do que as condições testadas? Seriam os efeitos das células mieloides sobre o crescimento tumoral e resistência a terapias presente em apenas uma fração dos pacientes com tumor de próstata? Espera-se que estas e outras perguntas sejam respondidas no seguimento a este trabalho encorajador!   

Para saber mais:

Targeting myeloid chemotaxis to reverse prostate cancer therapy resistance

Deixe um comentário