Será que vale a pena virar a noite estudando para uma prova?

Por Virgínia Lazzari (Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética ) e Luiza Bazzaneze – Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Os estudantes frequentemente utilizam a tática de “virar a noite estudando” na tentativa de obter melhores notas. Será que essa é uma boa estratégia? 

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Para responder a essa questão, vamos falar um pouco sobre a estrutura cerebral responsável pela formação de novas memórias e suas funções: o hipocampo. Essa estrutura faz parte do Sistema Límbico, estando relacionada ao controle comportamental, emocional, de aquisição e consolidação de memórias, além de ser essencial no processo de aprendizagem. Suas principais células são os neurônios piramidais, responsáveis pela comunicação com diferentes regiões cerebrais.

Durante o período de sono, as células piramidais do hipocampo emitem ondas agudas SWRs (Sharp Wave Ripples) em uma frequência determinada de disparos elétricos. Essas ondas são originadas em uma pequena área hipocampal, mas distribuídas por toda a sua extensão e, além, produzindo atividades de disparo sincronizadas. Para criar uma memória, essa atividade cerebral fica repetindo os padrões de disparo usados, tornando o “caminho” neuronal associado a ela mais forte e estável. Quando estamos acordados, é normal que ocorra uma alta frequência de disparos neuronais, pois muitas informações estão chegando ao nosso cérebro. Durante o sono, deve ocorrer uma redução da frequência de ativação dos neurônios, bem como a “reativação” de alguns padrões que ocorreram durante o dia. Com a reativação desses padrões, ocorre o fortalecimento e a consolidação das memórias a serem mantidas. Dessa forma, as SWR fortalecem as conexões associadas à memória, melhorando seu armazenamento e a capacidade de criar recordações relacionadas ao aprendizado.

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Regeneração de lesão de medula nervosa: um passo promissor!

Por Michelle Tillmann Biz – Departamento de Ciências Morfológicas – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

As células-tronco são como sementes capazes de gerar novas células para os tecidos que habitam. A maioria dos tecidos do corpo possui estas células, o que garante a recuperação após uma lesão ou mesmo a reposição de células antigas por novas. 

Mas isso não ocorre no sistema nervoso. No tecido nervoso, os neurônios são células que desde o momento do seu surgimento serão as responsáveis por desempenhar sua função sem haver uma reposição por nova célula frente a uma lesão. Por isso, até bem pouco tempo era difícil falar em regeneração nervosa frente a situações críticas como lesão medular (em acidentes envolvendo a medula espinal) ou no cérebro (como no caso de falta de oxigenação). 

Digo até bem pouco tempo, pois Cientistas Descobriram Que células-tronco da polpa de dentes humanos são capazes de provocar regeneração de lesões nervosas. Por terem se originado a partir da crista neural, estas células apresentam capacidade de formar neurônios e ainda produzem uma variedade de fatores neurotróficos que favorecem um microambiente regenerativo. Duas publicações anteriores do CDQ apresentaram resultados de pesquisas científicas promissoras neste campo da regeneração nervosa usando estas células-tronco dentárias. (Leia AQUI e AQUI).

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Como o cérebro de mamíferos distingue um cheiro de milhares de outros?

Por Ricardo Castilho Garcez, Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC 

Sentir odores, como aquele cheirinho de café, é tão comum no nosso dia a dia que pode parecer algo simples, mas do ponto de vista biológico é complexo e mal compreendido. Manipulando geneticamente camundongos, de uma forma muito peculiar, pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine conseguiram identificar um padrão de ativação de um conjunto de neurônios, responsável pelo reconhecimento de um odor específico. Esse é o primeiro trabalho que associa um determinado circuito neuronal à percepção de um determinado cheiro.

Mas por que isso é tão importante?

Para ficar mais simples de entender, vamos comparar dois sentidos: a visão e o olfato. Continuar lendo