Por Geison Souza Izídio Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC
Ano 55, século XX, faleceu Albert Einstein, um dos maiores cientistas que já viveu neste nosso pálido ponto azul, chamado de planeta Terra. Não seria preciso ressaltar aqui as enormes contribuições científicas deixadas por esta mente brilhante, ao longo dos seus anos de vida. Porém, nem todos sabem que pouco antes de falecer, Einstein foi signatário do “Manifesto Russell-Einstein” (1955), escrito por Bertrand Russell, filósofo premiado com o Nobel de literatura. Este texto alertava para os perigos da proliferação de armamentos nucleares e solicitava que os líderes mundiais buscassem soluções pacíficas para os conflitos internacionais.
Infelizmente, no mesmo ano de 55, quando perdíamos este ícone científico mundial, oManifesto Russell-Einstein era deixado de lado e iniciava-se a Guerra do Vietnã. Uma guerra de interesses econômicos e políticos, que duraria 20 longos anos e custaria a vida de dezenas de milhões de pessoas.
Coincidentemente, hoje o número 55 está novamente presente em um embate entre ciência e política, em uma “batalha” que também poderá durar 20 longos anos e prejudicar a vida de milhões de pessoas. Atualmente a “guerra” tem seu epicentro no Senado brasileiro, mais precisamente na Proposta de Emenda Constitucional 55 (PEC55). Vários especialistas podem falar e dissertar com enorme propriedade a respeito da PEC. Mas o que proponho aqui é refletir em 55 linhas sobre o que cientistas e algumas das principais revistas científicas do mundo estão publicando sobre este assunto.
Em uma matéria assinada por Herton Escobar, a prestigiadíssima revista Science, de outubro/2016, publicou uma reportagem sobre a controversa decisão do governo brasileiro de tentar congelar por 20 anos, através da PEC55, os investimentos em educação, ciência, tecnologia e inovação. Nas palavras de Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, citada na matéria: Países inteligentes investem em ciência, tecnologia e inovação para superar as suas crises. Nós (infelizmente) estamos planejando o oposto. A revista Nature também deu destaque ao Brasil apontando a difícil batalha dos cientistas brasileiros para tentar escapar dos 20 anos de congelamento. Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências, disse, na matéria, que em caso da aprovação da PEC: Seria o fim da ciência no Brasil.
Estas opiniões e declarações em revistas científicas de grande importância mundial não são meras obras do acaso. Os investimentos recentes em saúde e educação, no nosso país, surtiram efeito. Por exemplo, em um estudo publicado em novembro de 2016 na revista científica International Journal for Equity in Health, os Cientistas Descobriram Que a população brasileira apresentou melhoria nos cuidados de saúde entre 2008 e 2013. Os brasileiros tiveram aumento de acesso a médicos e dentistas e redução de hospitalizações, apesar das crises econômicas recentes, neste período. No entanto, o estudo alerta que estes ganhos recentes podem ser revertidos a condições pré-2008, se os investimentos não forem mantidos à medida que o país entre em crises políticas. Da mesma maneira, nesta mesma revista científica, mas em outro artigo, os Cientistas Descobriram Que brasileiros com baixo nível de educação têm maiores níveis de diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, em comparação àqueles que apresentam formação superior (12 anos, ou mais de escolaridade). Assim, para melhorar a saúde geral da população brasileira, os programas de políticas públicas deveriam focar nas pessoas de baixo status socioeconômico e promover oportunidades educacionais para todos.
Não é preciso enumerar a gigantesca economia de gastos públicos em uma população saudável e educada. Da mesma maneira, seria desnecessário escrever que uma população se torna independente tecnologicamente com uma ciência forte. Entretanto, muitos dizem que de nada adiantam os dados científicos, pois políticos legislam apenas com interesses próprios. Creio que os senadores da atual 55ª legislatura são apenas cidadãos da população brasileira, eleitos por nós para, momentaneamente, nos defender, representar e atender. A população sim é o gigante. Adormecido é verdade, mas com toda a ciência da melhoria em suas mãos.
Como Bertrand Russel escreveu:
…a humanidade encontra-se perante uma escolha clara: ou adquirimos um pouco de sensatez, ou iremos todos perecer. Uma reviravolta do pensamento político terá que acontecer para que seja evitado o desastre final… (The Bomb and Civilization).
Esse post merece um Nobel em Literatura. Bom, professor!