Células tumorais se espalham de forma mais agressiva durante o sono

Por Edroaldo Lummertz da Rocha. Dpto. de Microbiologia, UFSC

O câncer permanece uma das maiores ameaças contra a saúde humana. Apesar do progresso obtido no gerenciamento clínico da doença e diversas descobertas científicas sobre biologia do câncer, lacunas de conhecimento importantes ainda precisam ser elucidadas, especialmente sobre o processo de metástase, definido como a disseminação de células tumorais do câncer primário para outros órgãos. Em estudo recente publicado na revista científica Nature, Diamantopoulou et al. apresentam resultados demonstrando que a agressividade da disseminação de células tumorais para outros órgãos pode mudar enquanto dormimos

A metástase está associada a mais de 90% das mortes relacionadas ao câncer. Células tumorais podem sair do câncer primário e entrar na circulação sanguínea para formar tumores em outros órgãos. Estas células tumorais são denominadas células tumorais circulantes (CTC). Em princípio, acredita-se que as CTCs são responsáveis pela metástase, viajando sistema circulatório como células individuais, ou como agregados de CTCs e células imunológicas, o que poderia aumentar a sua agressividade e capacidade metastática.

Embora a dinâmica da geração de CTCs a partir do tumor primário seja pouco compreendida, a teoria vigente indica que estas células continuamente entram no fluxo sanguíneo durante o desenvolvimento do câncer. Diamantopoulou e colegas mostraram que a liberação de CTCs para o fluxo sanguíneo está associada com o ciclo circadiano o qual, em termos gerais, é um mecanismo pelo qual nosso corpo é regulado entre o dia e a noite. O rompimento do ciclo circadiano está conectado com uma variedade de doenças crônicas, incluindo o câncer. Neste estudo, se elucidou uma conexão entre a metástase e o ciclo circadiano. 

Os autores coletaram amostras de sangue de 30 pacientes com câncer de mama, obtendo amostras às 4 e às 10 horas da manhã, representando as fases de “repouso” e “ativa” do organismo, respectivamente. Os autores observaram que mais de 78% das CTCs obtidas foram provenientes das amostras da fase de “repouso”. Estudos em modelos animais demonstraram o mesmo fenômeno, indicando que células tumorais entram na circulação sanguínea em taxas maiores durante o sono do que quando estamos acordados. De fato, os autores observaram que CTCs provenientes da fase de “repouso” formam tumores de forma mais agressiva quando comparadas a CTCs provenientes da fase “ativa” quando injetadas em animais de laboratório. Por meio de análises de expressão gênica, mostrou-se que CTCs da fase de “repouso” expressam genes associados à proliferação celular, enquanto CTCs da fase “ativa” expressam genes relacionados à síntese de proteínas.

É importante notar que os órgãos futuros da metástase devem ser propícios para o estabelecimento de tumores secundários e que o aumento no número de CTCs per se pode não necessariamente indicar um aumento nas taxas de metástase, pois uma fração substancial das CTCs morre na circulação sanguínea. Ainda é necessário demonstrar se este fenômeno é generalizável para outros tipos de câncer, ou se os achados do estudo relacionados ao ciclo circadiano possuem implicações clínicas para o gerenciamento da doença de pacientes. Interessantemente, o estudo indica a possibilidade de identificar novos biomarcadores sanguíneos preditores da formação de metástases em órgãos distantes.

Para saber mais acesse:

The Metastatic Spread of Breast Cancer Accelerates during Sleep

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