Reposicionamento de fámacos: como um medicamento para outra finalidade pode ser tornar um tratamento para gordura no fígado?

Por Alessandra Melo de Aguiar – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz Curitiba – Paraná

Imagine a seguinte situação: você combinou de levar sua receita especial de torta de limão para uma confraternização no trabalho. Ao preparar a receita, você não acha o espremedor de limão, sem demora você olha os utensílios disponíveis no escorredor de louça e vê o pegador de macarrão, você então improvisa e utiliza o pegador de macarrão para espremer o limão, e dá tudo certo com o preparo da receita. O pegador de macarrão não foi feito para espremer limões, mas ele funcionou muito bem para isso. Essa pequena história de nosso cotidiano pode explicar como alguns cientistas pesquisam novos medicamentos. Você sabia que vários dos medicamentos utilizados hoje em dia foram desenvolvidos inicialmente para o tratamento de algo totalmente diferente? Esse processo é chamado de reposicionamento de fármacos e é como dar um novo uso a remédios usados para tratar outra doença. Assim como você encontraria novos usos para utensílios de cozinha, os cientistas estudam novos usos para remédios já existentes. 

Por exemplo, a semaglutida, medicamento inicialmente desenvolvimento para o tratamento do diabetes tipo 2, em pesquisas posteriores se mostrou promissor para a perda de peso e já existem hoje remédios aprovados para o tratamento da obesidade. Outro exemplo, é o Sildenafil, que foi desenvolvido inicialmente para tratamento de pressão alta, porém mostrou um efeito adverso curioso, e atualmente é utilizado no tratamento de disfunção erétil. Estes casos mostram como os cientistas podem descobrir que medicamentos já conhecidos podem ser estudados para novos tratamentos de problemas de saúde completamente diferentes. 

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A saga dos cientistas que copiam a natureza: células-tronco artificiais! Será mesmo?

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas – Fiocruz, Paraná

O uso das células-tronco em tratamentos clínicos da chamada medicina regenerativa se baseia sobretudo no potencial destas células em induzir a recuperação dos tecidos que são lesionados ou são acometidos por alguma doença que cause sua degeneração. As características e potencialidades das células-tronco são inúmeras, a depender de seu tecido de origem e do estágio de maturação que se encontre. 

Este blog já dedicou muitos dos seus textos descrevendo promissoras descobertas científicas sobre as células-tronco (veja exemplos aqui). Contudo, o uso destas células na medicina regenerativa enfrenta grandes desafios, seja pela diversidade que dificulta a uniformização da sua aplicação ou pela instabilidade durante seu cultivo e expansão em laboratório. É justamente por este motivo que os cientistas buscam maneiras de copiar as células-tronco e substituí-las por produtos de fabricação laboratorial, multiplicáveis e uniformes, por vezes chamados de células-tronco artificiais.

No ano de 2016, cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, desenvolveram uma espécie de versão sintética de célula-tronco cardíaca. Micropartículas que imitavam as células foram fabricadas em laboratório, utilizando o conteúdo secretado por células-tronco (conhecido como fatores parácrinos, que são sinais enviados entre as células de um tecido).

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