Por Ricardo Castilho Garcez – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética, UFSC
Cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) compararam o genoma de homens de Neandertal, que viveram na eurásia há 40.000 anos atrás, com o genoma de humanos modernos. Dentre as várias diferenças encontradas, chamou atenção uma variante do gene que codifica a proteína NOVA1. Para entender se essa proteína variante poderia contribuir para as diferenças existentes entre nosso cérebro e o de homens de Neandertal, esses cientistas produziram organoides cerebrais humanos (aglomerados celulares que recriam parte da estrutura e função do cérebro, também conhecidos como minicérebros), substituindo o gene da proteína NOVA1 moderna, pela variante de neandertal. Ou seja, produziram organoides cerebrais humanos que expressavam a versão neandertal da proteína NOVA1.
Você ficou curioso para saber se a alteração de uma única proteína poderia mudar o desenvolvimento do nosso cérebro, aproximando-o do cérebro dos Neandertais?
Bom, a resposta foi sim! Os organoides humanos, que expressavam a variante neandertal da proteína NOVA1, apresentaram alterações na produção de várias outras proteínas e no processo de splicing, uma etapa anterior, mas necessária à produção algumas proteínas. Além disso, os cientistas perceberam que esses organoides humanos/neandertais tinham diferenças na sua morfologia e na maneira como os neurônios se comunicavam (através das sinapses). A comunicação entre os neurônios é realizada via moléculas chamadas neurotransmissores. Dentre os vários neurotransmissores que existem, a comunicação entre os neurônios utilizando o Glutamato foi a mais afetada. Esses resultados já são bem interessantes, mas a técnica e a metodologia desenvolvida têm muito mais a nos contar.
A partir de agora, os cientistas têm em mãos uma ferramenta poderosa para entender como modificações no genoma puderam guiar parte da evolução humana. Além disso, esse mesmo tipo de tecnologia pode ser utilizado para estudar doenças genéticas. Basta alterar o gene normal pela versão alterada.
Segundo os pesquisadores, não podemos afirmar que apenas a alteração na proteína NOVA1 seria suficiente para tornar um cérebro humano moderno em um cérebro neandertal. É importante lembrar que, pelo que sabemos do registro fóssil, os neandertais foram extintos e os humanos modernos, apesar de terem herdado alguns genes Neandertais, não são diretamente descendentes deles. É muito provável, no entanto, que alterações como a da proteína NOVA1 tenham sido uma das etapas que permitiram as diferenças existentes entre neandertais e o nosso ancestrais.
Para saber mais acesse o artigo original: