Organoides de cérebros humanos modernos com genes neandertais

Por Ricardo Castilho Garcez – Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética, UFSC

            Cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) compararam o genoma de homens de Neandertal, que viveram na eurásia há 40.000 anos atrás, com o genoma de humanos modernos. Dentre as várias diferenças encontradas, chamou atenção uma variante do gene que codifica a proteína NOVA1. Para entender se essa proteína variante poderia contribuir para as diferenças existentes entre nosso cérebro e o de homens de Neandertal, esses cientistas produziram organoides cerebrais humanos (aglomerados celulares que recriam parte da estrutura e função do cérebro, também conhecidos como minicérebros), substituindo o gene da proteína NOVA1 moderna, pela variante de neandertal. Ou seja, produziram organoides cerebrais humanos que expressavam a versão neandertal da proteína NOVA1.

            Você ficou curioso para saber se a alteração de uma única proteína poderia mudar o desenvolvimento do nosso cérebro, aproximando-o do cérebro dos Neandertais?

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Mini pulmões cultivados em laboratório são utilizados no combate à Covid19

Por Ricardo Castilho Garcez, Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética da UFSC.

Os organoides, minúsculas cópias de órgão humanos criadas em laboratório, passam a contribuir no enfrentamento da Covid19.  Pesquisadores da Weill Cornell Medicine (USA) desenvolveram organoides de pulmões e intestinos para estudar os mecanismos de infecção do vírus SARS-Cov2 (que causa Covid19) e testar possíveis medicamentos.

Os casos e mortes por Covid-19 continuam a aumentar em todo o mundo. Atualmente, a maioria dos modelos de estudo limita-se a utilização de células cultivadas e o uso de alguns animais de laboratório. Esses modelos ajudam muito, mas apresentam várias limitações. Em sistemas de cultivo de células isoladas, a complexidade do tecido e do órgão é perdida. Dados obtidos com animais de laboratório, muitas vezes não reproduzem o que ocorre na nossa espécie. O vírus  SARS-CoV-2 infecta principalmente o trato respiratório, mas quase 25% dos pacientes com Covid-19 também apresentam sintomas gastrointestinais, que estão associados aos casos mais graves.

O Dr. Shuibing Chen e o Dr. Robert Schwartz utilizaram células-tronco humanas de pluripotência induzida (iPSC) para Continuar lendo

Células-tronco podem servir como vacina contra o câncer

Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

Baseando-se na reconhecida habilidade de proliferar rapidamente e gerar inúmeros clones de si mesmas, as células cancerosas têm sido comparadas às células-tronco pluripotentes. Essa e outras similaridades compartilhadas entre esses dois tipos celulares deram origem à atual hipótese das células-tronco tumorais, cuja proposta define que, dentre todas as células cancerosas, algumas atuem como células-tronco que se reproduzem e sustentam o câncer de forma semelhante às células-tronco que normalmente renovam e sustentam nossos órgãos e tecidos. Foi com essa ideia em mente que um grupo de cientistas de diferentes partes do mundo (Estados Unidos, Holanda, Alemanha e Coreia) ousou testar células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs; consulte nossos textos anteriores) como uma potencial vacina anticâncer. O artigo publicado em fevereiro de 2018, na renomada revista Cell Stem Cell, relata que injeções de iPSCs irradiadas protegem camundongos do desenvolvimento de câncer de mama, pulmão e pele, assim como previnem o reaparecimento de tumores removidos cirurgicamente. Continuar lendo

Organoides, muito mais que apenas órgãos em miniatura!

Por Ricardo Castilho Garcez                                                                                                  
Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC

Os organoides são estruturas tridimensionais, derivadas de células tronco ou progenitores. Durante a formação de um organoide, as células se auto-organizam assumindo uma citoarquitetura muito semelhante à encontrada no tecido original. Atualmente, os cientistas já são capazes de produzir organoides de praticamente todos os tecidos humanos. Para produção da maioria dos organoides são utilizadas células de pluripotência induzida – iPSC (iPSC podem realmente ajudar a tratar doenças?) ou células tronco.Apesar de parecer recente, a ideia de produzir órgãos em miniatura já vem de longa data. Em 1975, os pesquisadores Continuar lendo

É possível testar a dor de forma personalizada antes de decidir a medicação de escolha?

Por Marco Augusto Stimamiglio                                                                                          Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR

Marco - figuraA percepção da dor é considerada um fenômeno multidimensional, pois resulta de uma experiência que envolve aspectos fisiológicos e sensoriais, mas também aspectos emocionais. É por isso que avaliar a percepção da dor entre indivíduos diferentes não é uma tarefa fácil. Mais difícil ainda é desenvolver modelos de estudo para se avaliar a dor e também as Continuar lendo

Células-tronco pluripotentes induzíveis – iPSCs podem realmente ajudar a tratar doenças?

Por Gabriela Pintar de Oliveira                                                                                                  CIPE – Centro Internacional de Pesquisas. Hospital AC Camargo – SP

Gabriela - figuraDesde que foi observada pela primeira vez, em 1665, por Robert Hooke, até os dias de hoje, a célula, a menor unidade formadora dos nossos tecidos e órgãos, ainda desperta o interesse dos cientistas. Mais de 200 tipos celulares formam os tecidos e o mais fascinante disso é saber que toda essa diversidade se origina de uma única célula (o zigoto unicelular, originário da união do óvulo Continuar lendo