Por Bruno Costa da Silva – Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa, Portugal

Dados recentes da organização mundial da saúde indicam que em torno de 18 milhões de pessoas morrem no mundo anualmente em decorrência de doenças cardiovasculares (especialmente por ataque cardíaco e derrames). Apesar deste dado impressionante, este número era mais do que o dobro nos anos 1980. Além de reduções marcadas no consumo de cigarros e desenvolvimento de tratamentos anti tromboses, um fator marcante para esta queda vertiginosa foi o maior controle dos níveis de colesterol pelo uso amplo de drogas do tipo Estatinas.
Outra causa importante de mortes é o câncer, que causa em torno de 10 milhões de mortes por ano mundialmente. Um dos principais motivos para esta cifra, que continua com tendência de alta, decorre da falta de estratégias diagnósticas precoces que previnam o desenvolvimento de metástases tumorais. Apesar do aprimoramento de tratamentos antitumorais, especialmente por avanços em técnicas cirúrgicas e de drogas alvo-dirigidos, ainda há falta de estratégias eficazes para a prevenção e tratamento de metástases.
Visando identificar melhores estratégias terapêuticas para cânceres de mama, o tipo tumoral mais frequente no mundo, em um trabalho do grupo do Dr. Xiaojiang Cui do Samuel Oschin Cancer Institute em Los Angeles (EUA), publicado na revista americana Molecular Therapy, Cientistas Descobriram Que a agressividade de tumores de mama pode estar relacionada à produção de colesterol, e que Estatinas podem ser utilizadas para o tratamento de tumores de mama.
Mais especificamente, ao estudar cânceres de mama, observou-se que células tumorais com grande capacidade de formar metástases interagem com células saudáveis pulmão, que por sua vez induzem a produção de colesterol por tumores de mama. Os autores viram ainda que a produção de colesterol estimulou a formação de vasos sanguíneos nas proximidades das lesões metastáticas pulmonares, fornecendo aporte de nutrientes necessários para o estabelecimento e expansão de metástases pulmonares.
Tomando como base estratégias utilizadas na prevenção de doenças cardiovasculares, os autores observaram que ao utilizar Estatinas (drogas que atuam bloqueando a produção de colesterol) foi possível reduzir a produção de colesterol por células tumorais mamárias metastáticas. Esta utilização levou à diminuição da formação de vasos sanguíneos e, consequentemente, ao número de lesões metastáticas nos pulmões de camundongos inoculados com tumores de mama. Um ponto a ser enfatizado é que ao invés de tratar animais com Estatinas por via oral, os autores administraram este fármaco ligado a nanopartículas que entregam o fármaco preferencialmente para células tumorais em vias respiratórias por via inalatória. Ao fazer isso os autores aumentaram de forma significante a eficácia do tratamento.
Estudos anteriores já haviam observado uma possível relação entre o consumo de Estatinas e uma menor agressividade de tumores de mama. Se confirmada, por se tratar de um fármaco seguro e acessível, esta estratégia poderá em tese beneficiar pacientes com tumores de mama agressivos. Apesar da grande promessa trazida por esse trabalho, ainda será necessário testar se tumores de mama malignos de humanos também produzem colesterol e se ao fazem também suportam a formação de metástases. Além disso, será interessante investigar se outros tumores também utilizam a produção de colesterol como estratégia para estabelecer metástases.
Para saber mais: