Por Paula Borges Monteiro – Grupo de Estudos em Tópicos de Física – IFSC
Você pode imaginar que este texto é sobre a missão exercida por religiosos ou um conteúdo abordando ciência e fé. Não! “Sacerdócio” é o termo utilizado em uma série de seis artigos da revista Science que falam sobre Físicos Negros. A seção especial ocupa a capa da edição de 4 de março de 2022.
Muitos assuntos explicados por Cientistas Descobriram Que… foram publicados nas revistas científicas mais conceituadas e influentes do mundo. Os cientistas submetem seus trabalhos que são analisados e revisados por outros pesquisadores e aceitos ou não para publicação. O aceite depende, além do mérito científico e da originalidade, das características da revista que, algumas vezes, além de importantes investigações científicas, focadas ou não em determinada área, publica notícias, oportunidades e implicações da ciência na política e na sociedade. É o caso da revista Science, uma das mais prestigiadas do mundo, publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.
O sacerdote, no contexto da discussão sobre o privilégio branco na Física, seria aquele que se esforça para construir ambientes que não prejudiquem estudantes marginalizados e para realizar mudanças significativas. Os artigos publicados na revista Science, “A Física dos EUA pode superar seu recorde de exclusão?”, “O preço do privilégio branco”, “Conserte o sistema, não os alunos”, “Faculdades negras não podem fazer tudo”, “Chamado para ensinar” e “O caminho surpreendente de Michigan para a diversidade”, retratam o racismo na comunidade dos físicos americanos. Infelizmente não é um problema restrito à área da Física ou àquele território. E se na graduação os estudantes negros são raros, nos programas de pós-graduação a situação é mais preocupante.
Os EUA possuem aproximadamente 850 instituições que ofertam a formação em Física e cerca de 30% delas não formaram um único aluno negro nos últimos vinte anos. Os programas de pós-graduação poderiam representar melhor a diversidade, na medida que são compostos por estudantes de outras regiões e países, porém os estudantes negros representam apenas 0,5% dos pós-graduandos. Quando falamos de mulheres negras, a primeira doutora em Física nos EUA obteve seu título há somente 50 anos e até hoje, apenas 150 fazem parte deste seleto grupo. A primeira doutora negra em Astrofísica obteve seu título em 2007 e muitas instituições nunca formaram uma doutora na área.
A luta contra o racismo sistêmico tem como forte arma a conscientização de que o problema é de todos e que não se deve esperar “que os negros liderem o caminho para corrigir um problema que não foi criado por eles”. Precisamos de sacerdotes!
O primeiro passo é reconhecer o ponto em que chegamos e entender que, para que este espaço possa ser ocupado, os futuros físicos precisam se reconhecer dentro da comunidade científica. Sabemos que a sociedade não se recorda dos nomes de muitos físicos ao longo da história, mas com certeza, o lembrado é branco.
Para saber mais:
Texto muito interessante. De fato, esse é um problema complicado na sociedade estadunidense, mas não se resume a esse país e sim muitos outros países, incluindo os subdesenvolvidos como o Brasil. O Brasil que é um país que vem perdendo um investimento em ciência de base e tecnologia muito grande em mais de cinco anos e também uma piora em vários setores da economia brasileira como um todo e que precarizaram o brasileiro. O Brasileiro está mais pobre e sem tempo para estudar quase, o que inclusive fez aumentar casos de depressão e ansiedade em universitários (muitos amigos meus inclusive), mas essa é uma outra história. Negros, negras, pardos, indígenas, brancos, amarelos, no Brasil estão todos marginalizados e sem perspectiva, mesmo os que conseguem entra na universidade ou os que conseguem terminar o curso. A solução existe e penso eu que depende do principal interessado que somos todos nós a maioria de cidadãos nos comprometermos com a cidadania que diz respeito a agir dentro das instituições, dentro da legalidade, dentro de partidos políticos e pauta-los, já que são os intermediários inevitáveis no processo democrático para fazer as chamadas prévias com listas proporcionais para o legislativo que deem opção real para o eleitor na hora do voto. No Brasil a questão existe também e é maior e digo sempre que a questão da ciência brasileira é uma questão congressual (congresso nacional). E são situações complicadas como essa que inclusive me levam a ter mudado o tema do meu trabalho final de curso para uma abordagem dizendo respeito a biologia e a cidadania, como sou graduando em biologia.
Para encerrar digo que sem justiça social, jamais haverá nação forte.
Obrigado e excelente texto para discussão.
Robson Viana Xavier.
Florianópolis, 05 de maio de 2022.