Por Dr. Bruno Costa da Silva do Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa,

Neste texto descrevemos um recém descoberto mecanismo pelo qual células tumorais conseguem se proteger do ataque de células imunes.

Dentre outros fatores, o envelhecimento da população tem levado o câncer a ser uma das principais causas de morte atuais. A modernização de métodos diagnósticos e cirúrgicos, juntamente com o desenvolvimento de novas drogas e protocolos terapêuticos, têm tido um importante impacto no aumento da sobrevida de pacientes oncológicos. Entre as novas armas para o tratamento de pacientes com câncer estão drogas que têm como efeito desejado a reativação da resposta do sistema imune contra células tumorais. Apesar de apresentarem resultados encorajadores, no máximo 20-30% dos pacientes oncológicos podem se beneficiar destes novos tratamentos, também conhecidos como imunoterapias. Em termos gerais, a resistência de tumores a imunoterapias envolve a remodelação insuficiente do sistema imunológico ou mesmo o impedimento de modificações celulares e moleculares que resultariam na eliminação de células tumorais.

Especificamente, os autores deste trabalho observaram que tumores (melanoma no caso deste estudo) sensíveis e resistentes a imunoterapias não apresentam grandes diferenças quanto a expressão gênica, sugerindo que outra(s) característica(s) que não a expressão de proteínas específicas poderiam mediar a resistência a esses tratamentos.

Em um passo seguinte, ao estudar com detalhes células tumorais de animais tratados com imunoterapias, os investigadores observaram que em casos de resistência, as células tumorais foram encontradas dentro de outras células tumorais. Os autores viram ainda que este processo de internalização, chamado de “células em células”, é desencadeado por células imunes antitumorais e que resulta na proteção da célula internalizada contra a ação antitumoral, que acaba por matar a célula tumoral exterior.

A seguir, os autores buscaram entender como o fenômeno de células em células ocorre, e observaram que dentre mais de 400 proteínas modificadas no evento de internalização celular, duas proteínas, chamadas de STAT3 e EGFR1, apresentavam função chave neste processo. Os pesquisadores viram que ao estimular a produção destas proteínas em tumores, a formação das células em células ocorria mesmo na ausência de células imunes, reforçando a importância destas duas proteínas para esse mecanismo. Em seguida, ao diminuir a expressão dessas proteínas nos tumores, os autores viram que eles se tornaram mais suscetíveis à ação de células imunes antitumorais. Tendo em mente estes resultados encorajadores, os cientistas testaram se o uso de drogas contra STAT3 (para inibir as células em células) combinadas com imunoterapias, resultariam em uma eliminação mais eficiente de lesões tumorais. De fato, foi observado que apesar de não possuir efeito antitumoral significante, quando administrado sozinho, o inibidor de STAT3 potencializou o efeito de imunoterapias.

Será importante ainda investigar o quão frequente e relevante é a formação de células em células para a resistência contra outros agentes dirigidos ou não à resposta imune antitumoral. Visto que o escape da ação do sistema imune é importante para a viabilidade de tumores, caberá ainda a investigações futuras estudar o quanto a internalização de células tumorais desempenha um papel na iniciação e espalhamento de doenças tumorais.

Para saber mais acesse:

• Transient cell-in-cell formation underlies tumor relapse and resistance to immunotherapy

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