O " Cientistas descobriram que…" descreverá alguns dos principais achados científicos atuais numa linguagem simples. Nossos textos são escritos e revisados por pesquisadores que atuam em diversas áreas do conhecimento.
Por Dr. Bruno Costa da Silva do Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa,
Neste texto descrevemos um recém descoberto mecanismo pelo qual células tumorais conseguem se proteger do ataque de células imunes.
Dentre outros fatores, o envelhecimento da população tem levado o câncer a ser uma das principais causas de morte atuais. A modernização de métodos diagnósticos e cirúrgicos, juntamente com o desenvolvimento de novas drogas e protocolos terapêuticos, têm tido um importante impacto no aumento da sobrevida de pacientes oncológicos. Entre as novas armas para o tratamento de pacientes com câncer estão drogas que têm como efeito desejado a reativação da resposta do sistema imune contra células tumorais. Apesar de apresentarem resultados encorajadores, no máximo 20-30% dos pacientes oncológicos podem se beneficiar destes novos tratamentos, também conhecidos como imunoterapias. Em termos gerais, a resistência de tumores a imunoterapias envolve a remodelação insuficiente do sistema imunológico ou mesmo o impedimento de modificações celulares e moleculares que resultariam na eliminação de células tumorais.
Buscando entender quais estratégias biológicas os tumores utilizam para se proteger da ação de imunoterapias, em um estudo liderado pelo Dr. Yaron Carmi da Universidade de Tel Aviv em Israel, publicado na revista eLife em setembro de 2022, cientistas descobriram que células tumorais podem sobreviver a ataques de células imunes ao se esconderem dentro de outras células tumorais.
Por Virginia Meneghini Lazzari – Dpto. de Biologia Celular Embriologia e Genética, UFSC
A reprodução assistida é uma área da medicina em crescimento desde que o primeiro “bebê de proveta” nasceu, em 1978. Atualmente, cerca de 8 milhões de crianças já foram geradas utilizando técnicas de fertilização in vitro. Em uma sociedade que cada vez mais adia os planos de ter filhos, a reprodução assistida surge como aliada para realizar o sonho da maternidade/paternidade.
No entanto, não se sabe o impacto das técnicas de fertilização in vitro na saúde das pessoas geradas a partir delas. Estudos têm sugerido uma influência no neurodesenvolvimento, função cardiovascular, metabolismo, crescimento, entre outros. Porém, não está claro se as diferenças observadas nas crianças concebidas por reprodução assistida são causadas pelo próprio procedimento ou por fatores associados à subfertilidade dos pais.
As técnicas de fertilização in vitro envolvem a manipulação e o cultivo de embriões durante um período que coincide com extensa remodelação epigenética. É, portanto, plausível que os procedimentos alterem a epigenética dos embriões e, por consequência, dos bebês gerados a partir deles. O termo epigenética se refere aos mecanismos celulares relacionados ao acesso da maquinaria celular às regiões do DNA. Através da epigenética, ocorre a regulação sobre quais genes cada célula deve “ler”. Fazendo uma analogia, é como se o DNA de uma pessoa fosse um “livro de receitas” sobre como o corpo deve ser construído e funcionar, e a epigenética é a marcação de quais páginas do livro devem ser lidas por cada célula para que o organismo funcione de forma adequada. Sem a epigenética, todas as receitas do livro poderiam ser lidas por todas as células. Assim, uma célula presente na retina do olho poderia executar a receita de como fazer fio de cabelo, por exemplo, provocando uma completa desordem!
Uma das formas de marcação epigenética, que guia as células sobre locais do DNA que não devem ser acessados, é a metilação do DNA. Nessa marcação, ocorre a ligação de um grupo metil (um carbono e três hidrogênios – CH3) a locais específicos do DNA, chamados de ilhas CpG e, em geral, isso demonstra para a célula que aquele local não deve ser “lido”. Um estudo recente, publicado na Nature Communications*, testou a metilação de DNA do sangue do cordão umbilical de 962 bebês gerados por reprodução assistida e comparou com a metilação de DNA de 983 recém-nascidos concebidos naturalmente. O estudo foi cuidadosamente desenhado para controlar potenciais fatores de confusão associados tanto com o uso de reprodução assistida quanto com metilação do DNA em recém-nascidos, como idade materna, causas de infertilidade, tabagismo e IMC (Índice de Massa Corporal – cálculo para avaliar o grau de sobrepeso e obesidade) materno.
Os cientistas descobriram que recém-nascidos concebidos por reprodução assistida apresentam metilação do DNA diminuída no seu genoma. Foram encontradas diferenças de padrão de metilação em 607 ilhas CpG entre os grupos. 176 destes locais de marcação epigenética estavam presentes em genes conhecidos, incluindo genes relacionados ao crescimento e desenvolvimento neural.
Alguns destes genes apresentaram muitas mudanças no padrão de metilação e chamaram a atenção dos cientistas.
Os genes com mais diferenças entre os grupos foram BRCA1 e HLA-DQB2. BRCA1 é um gene que desempenha um papel fundamental na divisão celular e expressão gênica, sendo um gene de suscetibilidade para câncer de mama de início precoce e apresentou 10 locais com alteração de metilação entre os grupos. Já o HLA-DQB2 é um gene que faz parte do sistema HLA, um grupo de proteínas envolvido tanto na resposta imune normal quanto na patogênese de doenças e apresentou 11 locais com alteração de metilação.
Chocante, não? Mas calma, apesar de tantas alterações, não é possível saber se as diferenças epigenéticas observadas persistem na idade adulta e contribuem para mudanças na saúde entre crianças concebidas por reprodução assistida e crianças concebidas naturalmente. Ainda há um longo caminho para entender as consequências destes achados, atualmente tudo indica que a reprodução assistida é segura e gera pessoas saudáveis e ainda não é possível saber o que estes achados significam. O papel dos cientistas é sempre observar, questionar e investigar as possibilidades biológicas relacionadas aos procedimentos realizados. É neste sentido que as pesquisas devem continuar ocorrendo, para garantir a segurança da população.
Por Marco Augusto Stimamiglio – Instituto Carlos Chagas – Fiocruz/PR
Estudos científicos que tratam da evolução da humanidade sugerem que a perda de genes foi decisiva na origem de nossa espécie. Estima-se que, entre 2 e 3 milhões de anos atrás, os humanos perderam a função de um gene com a sigla CMAH (proveniente do nome em inglês CMP-Neu5Ac Hydroxylase) . Esse gene permanece atualmente ativo em outros primatas não humanos. A mutação no gene CMAH aumentou a resistência dos nossos ancestrais para correr longas distâncias. Esta ‘vantagem adaptativa’ pode ter sido decisiva na conquista de novos territórios e na fuga de predadores, por exemplo. Naturalmente, é razoável considerar que não foi apenas essa mutação individual que nos trouxe tão atrativa adaptação, mas, possivelmente, também a perda de pelos e a expansão das glândulas sudoríparas tenham ajudado a manter esses ‘maratonistas’ arejados. Seja como for, os cientistas ainda não sabem muito sobre as alterações celulares que nos proporcionaram maior resistência na corrida quando comparados aos macacos. Continuar lendo →
Por Ricardo Castilho Garcez Dpto. de Biologia Celular, Embriologia e Genética – UFSC
Nessa semana nossa postagem é sobre o Imagine-Pangea, uma competição de divulgação científica, idealizada pelo Projeto Imagine, que vai envolver vários países da América Latina e África.
Para participar do Imagine-PanGea, mestrandos e doutorandos ,vinculados a Universidades da América Latina e África, deverão preparar um vídeo de 3 minutos apresentando o seu trabalho de pesquisa. O vídeo pode estar em português, inglês, francês ou espanhol e deve, obrigatoriamente, estar em linguagem simples, permitindo que qualquer pessoa interessada possa compreender. Continuar lendo →