Autofagia e esmalte dos dentes: Defeitos podem ser causados por estresse nutricional no ameloblastos

Por  Michelle T. Biz. Dpto. de Ciências Morfológicas, UFSC

Recentemente, Cientistas Descobriram Que a ausência de autofagia pode levar à condição de amelogênese imperfeita. Mas o que é autofagia?

A autofagia é o processo fisiológico básico responsável por eliminar da célula possíveis proteínas ou componentes celulares danificados ou desnecessários. Também é um mecanismo da célula para prover nutrientes em momentos em que estiver passando por condições de provação ou estresse, funcionando como um mecanismo de sobrevivência celular.

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Ciência da vida da gente: como cientistas descobriram que exercícios físicos combatem a obesidade

Por Alessandra Melo de Aguiar – Instituto Carlos Chagas, Fiocruz.

Caros leitores, é com alegria que eu escrevo o meu primeiro texto para o Cientistas descobriram que… No artigo de hoje, vou falar de uma descoberta que pode trazer explicações científicas para o uso da atividade física no combate à obesidade. Cientistas descobriram que os exercícios físicos estimulam a produção de uma substância que reduz o apetite e a obesidade. A pesquisa de Veronica L. Li e colaboradores (2023) foi publicada online no dia 15/06/22 na conceituada revista Nature e, até a presente data, já teve cerca de 69 citações em revistas científicas, o que indica que o artigo serviu de base para novas pesquisas e novos achados científicos!

A prática de exercícios físicos regulares é tão importante para a saúde que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 150 a 300 minutos semanais de atividade aeróbica moderada a vigorosa para os adultos (OPAS, 2020). 

A OMS também indica que a prática de atividade física regular é de extrema importância para prevenir e controlar várias doenças, como doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e câncer, além de reduzir os sintomas de depressão e ansiedade, reduzir o declínio cognitivo, melhorar a memória e exercitar a saúde do cérebro (OPAS, 2020). Contudo, as substâncias produzidas no organismo e seus mecanismos de ação, responsáveis por mediar os benefícios da atividade física, não são totalmente conhecidos. 

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As mudanças climáticas podem contribuir para o aumento da resistência aos antibióticos?

Por Fabienne Ferreira Dpto. de Microbiologia, UFSC

Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou uma lista com as 10 principais ameaças à saúde pública mundial, onde estão inseridas as mudanças climáticas e a resistência aos antibióticos. Mudanças climáticas referem-se às alterações de longo prazo nos padrões médios de temperatura, precipitação, ventos, entre outros aspectos no planeta. As principais consequências das mudanças climáticas incluem o aquecimento global, o derretimento das geleiras, eventos climáticos extremos e perda de biodiversidade. Segundo a OMS, estas mudanças estão relacionadas a cerca de 250.000 mortes adicionais esperadas por ano entre 2030 e 2050. 

Já a resistência aos antibióticos é um fenômeno em que microrganismos, como bactérias, tornam-se menos sensíveis ou completamente resistentes aos efeitos dos antibióticos que anteriormente eram eficazes contra eles.

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Memórias, não são só memórias!

Por Geison Souza Izídio, Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Temos a tendência natural a tratar nossas memórias do passado, como verdades absolutas. Para nós, elas são representações fidedignas de eventos, que se passaram em nossas vidas. Baseados nas nossas memórias podemos inclusive evocar estados de felicidade, ou de sofrimento intenso, no presente.

O treinador de futebol Jorge Sampaoli recentemente iniciou o seu trabalho no comando do Flamengo. Numa entrevista, concedida em junho de 2023, Jorge afirmou, por duas vezes, que se lembrava muito bem da sua primeira vez trabalhando no Maracanã. Teria sido em um jogo onde ele dirigia a “Universidad de Chile” contra o Flamengo de Ronaldinho Gaúcho, em outubro de 2011. Ótima memória para um evento de mais de 10 anos atrás, não? Porém, na verdade, o jogo nunca foi realizado no Maracanã, mas sim em outro estádio, o Engenhão!

Como poderia Jorge ter confundido dois estádios tão diferentes, que ficam a quilômetros de distância? Seriam nossas memórias representações não precisas de eventos passados? Podemos ter lembranças falsas a respeito da nossa própria vida?

Há muito tempo a comunidade científica sugere que existe uma representação física das memórias no cérebro, algo que é conhecido como engrama. Mas há 10 anos, em julho de 2013, cientistas do MIT, nos EUA, revolucionaram a ciência demonstrando, no cérebro de camundongos, que seria realmente possível implantar memórias falsas.

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A saga dos cientistas que copiam a natureza: imitar para entender! Inclusive o câncer…

Por Dr. Marco Augusto Stimamiglio do Instituto Carlos Chagas – Fiocruz

Caros leitores, este é mais um texto da saga dos cientistas que copiam a natureza. Trata-se de uma série que vem descrevendo estratégias para recriar situações e condições naturais das células e tecidos dentro de um laboratório de pesquisa. Nesta ocasião, porém, trataremos de uma estratégia de imitação multifatorial que permitirá entender mais profundamente o comportamento celular para descobrir melhores formas de tratar um tipo de câncer extremamente agressivo, os glioblastomas.

Os glioblastomas já foram tema de texto recente deste blog, trata-se da forma mais comum e maligna de câncer cerebral. Os tratamentos atualmente existentes são variados, mas a sobrevida média dos pacientes é de apenas 15 meses.

As dificuldades estão sobretudo baseadas nos mecanismos de resistência que os glioblastomas adquirem ao longo do tratamento terapêutico, resistência esta mediada por fatores presentes no microambiente tumoral. O rastreio para descoberta de novas drogas contra os glioblastomas depende do cultivo das células tumorais em laboratório, modelo que reduz a complexidade existente nos tecidos humanos e carece da miríade de fatores microambientais aos quais estão submetidos os glioblastomas.

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Desvendando uma doença rara e seu curioso sintoma de urina com aroma de xarope

Por Patrícia Shigunov – Instituto Carlos Chagas – FIOCRUZ

A ideia de ter urina com um cheiro adocicado, parecido com xarope, pode soar estranha, mas essa condição está ligada a problemas graves de saúde causados por alteração genética rara chamada “doença da urina com cheiro de xarope de bordo” (Maple Syrup Urine Disease – MSUD).

Embora o nome da doença descreva um dos sintomas, na verdade, ela é causada por um problema no funcionamento das enzimas dentro das nossas células. Essas enzimas são responsáveis por processar certos aminoácidos e substâncias chamadas 2-cetoácidos.

Como os aminoácidos não podem ser degradados totalmente, eles se acumulam na urina junto com seus subprodutos (alfa-cetoácidos), resultando no cheiro característico. No entanto, o aspecto mais preocupante dessa condição é o acúmulo dessas substâncias no cérebro, o que pode causar atrasos no desenvolvimento e deficiência intelectual, podendo até levar à morte no primeiro mês de vida se não for tratada.

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O que faz com que alguns espermatozoides sejam mais rápidos que outros?

Por Virginia Meneghini Lazzari – Departamento de Biologia Celular, UFSC

Caros leitores, vocês já pararam para pensar que mesmo as informações científicas podem ter uma “narrativa literária”? Pois então, estou aqui para contar para vocês uma história científica sobre amor e espermatozoides.

Começando pelo início…. Para que uma nova vida se forme, é necessário que ocorra a fecundação: a junção de um espermatozoide com um óvulo. Essa união ocorre após uma maratona de natação dos espermatozoides, em que milhões deles competem pelo mesmo óvulo. O caminho percorrido por estes milhões de espermatozoides impõe uma série de obstáculos para selecionar o espermatozoide mais apto à fecundação. Mas o que será que torna um espermatozoide “o escolhido”? Seria seu formato? Suas habilidades físicas ou químicas? Sua agilidade? Seu “amor”?

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