As Marcas do Cancro (câncer) em formato “mind map”

Por Rita Zilhão – Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Portugal

Neste texto, não pretendo escrever sobre “Os cientistas descobriram que…”, isto é, algo específico, mas sim realçar a importância de se proporem estruturas conceptuais e didáticas, para condensar e “arrumar” assuntos complexos associados a uma ampla variedade de descobertas e dados, como é o caso dos intrincados fenótipos e genótipos dos diferentes tipos de cancro (câncer em português brasileiro).

Em 2000 Hanahan and Weinberg escreveram um artigo de revisão(1) onde propunham que um conjunto de capacidades funcionais teriam de ser adquiridas para que as células fizessem o seu caminho da normalidade para estados de desenvolvimento neoplásico e formação de tumores malignos. Esse conjunto de capacidades, a que chamaram Marcas do Cancro (“Hallmarks of Cancer”), partilhadas por todos os tipos de células cancerígenas ao nível do fenótipo celular, estabelece uma estrutura conceptual que racionaliza os complexos e diferentes tipos de tumores humanos, assim como as suas variantes. Inicialmente, começaram por ser seis marcas distintas(1) abaixo enunciadas de uma forma mais detalhada: 

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Um programa na formação de metástases

Por Rita Zilhão, Faculdade de Ciências de Lisboa, Portugal

As metástases resultam da disseminação de células tumorais a partir de um tumor primário e à sua posterior colonização e crescimento noutro órgão ou tecido do organismo. A formação de metástases é responsável pela maioria das mortes relacionadas com o cancro (câncer, em português brasileiro). Os mecanismos moleculares subjacentes à formação de metástases têm sido alvo de intenso estudo desde há muito. As razões clínicas para essa dedicação são óbvias: quanto maior for esse conhecimento mais eficientes serão as estratégias e o desenvolvimento de drogas que visem o bloqueio ou redução do processo de metastização.

Um dos modelos biológicos que se pensa poder mediar a disseminação metastática é o do fenômeno conhecido como “transição epitélio-mesênquima” (EMT – epithelial-to-mesenchymal transition). Convém referir que, pela sua natureza e características, esse programa biológico está envolvido no desenvolvimento embrionário e na cicatrização de feridas (wound healing). Nas duas últimas décadas, verificou-se que, embora com algumas variantes, o EMT também está na origem da formação de metástases de cancros do pulmão, pâncreas, ovário etc.., ou seja, essencialmente carcinomas, que são cancros com origem em epitélios*. Mais uma vez o cancro se revela como um “fora-da-lei”, sequestrando os mecanismos normais da célula e manipulando-os para seu próprio uso fruto! Continuar lendo

Uma vacina para todos os tumores curar?

Por Bruno Costa da Silva                                                                                                  Pesquisador do Champalimaud Centre for the Unknown/Lisboa – Portugal

James Gillray. "A Pústula Bovina ou Os Maravilhosos Efeitos da Nova Inoculação!". 1802.

James Gillray. “A Pústula Bovina ou Os Maravilhosos Efeitos da Nova Inoculação!”. 1802.

Há mais de 200 anos, o naturalista e médico inglês Edward Jenner apresentou a descoberta revolucionária de que a pré-exposição de seres humanos à um vírus (ou a partes desse vírus) pode torná-los mais resistentes a esse mesmo vírus. Desta descoberta, nascem as vacinas. Apesar dessa estratégia ainda não funcionar contra todos os Continuar lendo

Serão as células normais e as células tumorais mais parecidas do que imaginamos?

Por Hélia Neves                                                                                                                                        Prof. da Faculdade de Medicina de Lisboa – Portugal
Sabe qual é o órgão no nosso corpo que perde 30.000 células/min e é responsável por grande parte do pó que produzimos lá em casa? É também o nosso maior órgão, que corresponde a 15% do nosso peso total e ocupa uma área de aproximadamente 2m2. Já adivinhou? Se disse a pele, acertou!

A pele é o órgão que reveste o nosso corpo protegendo-nos do exterior e literalmente impede-nos de evaporar! Continuar lendo

Terá o rato-toupeira sem pelo a chave para cura do cancro (câncer)?

Por Hélia Neves                                                                                                                                        Prof. da Faculdade de Medicina de Lisboa – Portugal

Para ouvir o áudio do texto com o autor, clique aqui.

O rato-toupeira sem pelo vive no subsolo nos desertos do leste da África e é considerado uma das maravilhas do mundo natural, com grande potencial para contribuir com a medicina humana. Proporcionalmente, se o homem vivesse o mesmo tempo que o rato toupeira sem pelo, viveria até os 600anos...

De pele enrugada e quase cego, o rato-toupeira sem pelo vive no subsolo nos desertos do leste da África. Esta espécie é considerado hoje uma das maravilhas do mundo natural, potencialmente útil à medicina humana pelas características extraordinárias que apresenta. Se a relação de tempo de vida/tamanho da nossa espécie fosse correlacionável à da do rato-toupeira sem pelo… Nós viveríamos até aos 600 anos… e sem cancro! Fonte: Frans Lanting/Corbis

“Quem vê caras… não vê corações” já diz o velho ditado Português, que é como quem diz… não confies nas aparências! E assim acontece com o rato-toupeira sem pêlo! O rato-toupeira sem pêlo pode ser um dos animais mais feios do planeta, mas é nele que actualmente se depositam algumas das esperanças para novos Continuar lendo